Viver de mão estendida
- Story of my life Blog
- 18 de mai. de 2021
- 3 min de leitura
As instituições dependem em muito da generosidade das pessoas, quer para a doação de géneros alimentícios e produtos de higiene, quer para roupa e calçado para as crianças e jovens que lá vivem, entre outras coisas.
Não quero “meter a foice em ceara alheia” como se costuma dizer, e opinar sobre questões políticas no âmbito dos subsídios que são dirigidos a este tipo de equipamento, mas são manifestamente insuficientes. Desde sempre que conheço as rotinas das oferendas, das visitas dos benfeitores, dos peditórios, das campanhas de solidariedade e dos jantares de angariação de fundos. Trato-os a todos por tu!
Vestem-nos as melhores roupas, «sorriam… sejam educados… digam obrigada aos senhores...». Passei por situações em que alguns benfeitores visitavam as instituições como se fossem ao jardim zoológico, «esta menina está aqui há 3 anos… este menino chama-se José e veio de Bragança… a Vera foi abandonada à porta da igreja (dizem em surdina)». Claro que inventei estes nomes e situações, mas perceberam a cena, certo?
Sei que é incontornável a existência da necessidade de abrir as instituições à comunidade para receber ajudas, apoios e donativos. A manutenção de um lar de acolhimento acarreta muitas despesas, muitas mesmo.
Para nós essas doações fazem-nos muito felizes e permitem-nos ter peças de roupa giras e até de marca. Por outro lado, nós não podemos comprar certas coisas que estão na moda ou que o nosso colega da escola tem, não temos dinheiro para isso. Há quem possa pensar; olha esta vive numa instituição, as pessoas dão-lhes roupa e ainda se está a queixar por não ter roupas novinhas, ingrata! Não é bem assim, nós somos muito gratas e damos valor ao que nos dão e ao que temos, mas também gostamos de estar arranjadas, aliás somos todas muito vaidosas. E sei que muitas famílias passam pela mesma situação e por isso sou solidária.
Nunca me fez confusão termos roupas que já foram usadas por outras pessoas, aliás até contribui para um mundo mais sustentável (vocês não sabem mas sou muito interessada na preservação do ambiente), o que pode fazer confusão é quando alguém da escola pergunta onde é que compramos aquilo, aí ficamos sem resposta ou dizemos, foi oferecido. Contudo e à medida que nos vão perguntando vão se apercebendo que quase tudo o que usamos é-nos oferecido e nunca temos o último grito da moda.
Nós até nos divertimos imenso – no Lar onde estou agora - naquilo a que chamamos “distribuição de roupa” em que estamos todas na sala sentadas no sofá e esta uma adulta à nossa frente a fazer “leilão” peça a peça e nós todas (por vezes aos berros, consoante o entusiasmo) escolhemos o que gostamos mais, quando há mais do que uma pretendente à mesma peça fazemos um sorteio, acaba por ter a sua piada. Pena é quando nos mandam roupa rota ou suja, às vezes acontece...
E no Natal, ah o Natal, é o jackpot. Toda a gente se lembra de nós em Dezembro. Inundam-nos de coisas novas, ansiamos o ano todo pelo Natal. No Lar onde estou entenda-se! Pois já passei por outros lares em que a roupa era de todos, ou seja, hoje vestia eu a camisola amarela e amanhã vestia o menino do lado a mesma camisola e assim sucessivamente. Iam buscar os nossos brinquedos velhos, embrulhavam-nos e davam-nos de novo no Natal, juro que é verdade! Os “pobrezinhos” não têm que aceitar tudo de qualquer maneira. Faço muito voluntariado e tenho sempre em mente que o que não serve para mim também não serve para os outros.

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