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Testemunho real nº5

Olá a todos os seguidores da Inês. Antes de começar, quero uma vez mais agradecer a minha amiga por mais uma oportunidade de participar no blogue dela. Que honra que é para mim!

Eis um resumo para quem não sabe e/ou não leu meu testemunho anterior, chamo-me Ana Cristina Sousa. Tenho 26 anos e vivi no Lar da Santa Cruz durante 4 anos, já me autonomizei há 8 anos. O tempo que vivi no Lar foi o suficiente para criar um novo "eu", melhor, mais maduro e mais saudável. Hoje, venho falar sobre os desafios que a nossa orientação sexual pode representar no acolhimento institucional. Entrei no Lar com 14 anos, e com essa idade já tinha a minha orientação sexual bem definida – sabia que era homossexual. Porém, escondia-a! Acontece que, numa idade prematura, esse assunto é um tanto ou quanto confuso. À medida que fui crescendo, fui percebendo o que se estava a passar. Percebi com toda a certeza que gostava de pessoas do mesmo sexo que eu. Inicialmente, foi complicado porque tinha receio que as pessoas me tratassem mal ou me discriminassem. Mas depois de me envolver com uma rapariga pela primeira vez, decidi contar às minhas amigas mais próximas que desconheciam esse meu segredo. A primeira pergunta que me foi colocada foi muito direta e em forma de admiração: "ui, és homossexual??", e por momentos pensei "que bom que seria se tivesse ficado calada...". Mas de certa forma sem saber como nem de onde, ganhei força e admiti. Baixei a cabeça e falei de outro assunto com o intuito de atenuar o que se tinha acabado de passar e acabar o assunto ali. Mas não resultou. Disseram "não tem mal seres assim, por mim tudo bem. Só não estava a espera! Tens o meu apoio. Não és menos para mim por causa disso". Fiquei radiante!

O facto de ter o apoio das minhas amigas, foi uma sensação inexplicável. Posteriormente, as meninas que viviam comigo também ficaram a conhecer esse facto sobre mim. Mas na minha ideia, faltava o pior, contar às técnicas do Lar e à família. O tempo foi passando, fui amadurecendo as minhas convicções e limando a minha personalidade com a ajuda de todos os que me rodeavam e através de muita introspeção também.

Até que ganhei coragem para contar às técnicas da instituição. Lembro-me como se fosse hoje (e hoje dá para rir, mas na altura tremia), pedi à Lilas (Liliana Morais, diretora técnica do Lar) que me deixasse falar com ela sobre um assunto que ja lhe queria falar há muito tempo. Quando comecei a falar, ela sorriu ao de leve e mostrou-me que era tudo natural, e que não era uma situação que fosse novidade, mas que era apenas uma confirmação da suspeita que já tinha. Nunca na minha vida pensei que me aceitasse tão bem, mas a verdade é que aceitou melhor do que alguma vez imaginei. E aí vi que atrás daquela figura firme e algo autoritária também (como tem e deve ser), existia um ser humano incrível. Uma conversa que guardo na memória para sempre porque me deu ainda mais força para não ter vergonha do que eu era. Do que eu sou! No que toca ao facto de viver com muitas meninas, existia a eventualidade de começar a gostar de alguma de forma diferente. Não digo que não, poderia acontecer. Mas não foi o caso. Sempre olhei para todas como minhas irmãs, como minha família.

Não é por gostar de outras mulheres, que quando alguma se despe à minha frente vai ser logo sexualizada por mim. Esse também foi um grande receio que tive ao contar sobre a minha orientação sexual. Tinha medo que um simples olhar, tivesse uma interpretação que não correspondesse à realidade. Confesso que existiram alturas em que evitava olhar com receio de mal-entendidos. Tirando isso, a minha vida na instituição foi super normal. Afinal de contas... Pessoas gostarem de pessoas, é normal, certo? Para mim, o mais importante é sermos felizes ao lado de quem nos faz bem, seja essa pessoa homem ou mulher. Mais vale assim do que irmos pelo erradamente dito "normal" e não sermos nós mesmos. E dessa forma não conseguirmos nunca encontrar a felicidade nem estabilidade emocional. A nossa orientação sexual não influencia na nossa maneira de estar e agir para com os outros enquanto cidadãos. Somos iguais a qualquer outra pessoa. Por assim ser, acho que ninguém deve ter medo nem vergonha do que é. E o facto de estar institucionalizado não deve ser impeditivo de termos a liberdade para gostar de quem queremos. Muito mais havia para dizer sobre este tema, mas o texto já vai longo e penso que a ideia principal ficou bem explicada. Termino o meu testemunho agradecendo a atenção de todos e com a esperança de ter ajudado alguém com as minhas palavras e exemplo.


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Aqui podes ficar a conhecer a minha história, a minha experiência de viver em casas de acolhimento a minha vida toda!

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