Para Onde Vão os Sonhos

Todos temos projetos para a nossa vida, pois bem, nas instituições o “projeto de vida ou PV” é um documento formal (e realista), quase como um guia onde traçamos objetivos a curto, médio e até longo prazo e delineamos as estratégias que vamos implementar para os alcançar. É feito com a ajuda de uma equipa multidisciplinar. Desenvolve o autoconhecimento, promove uma maior responsabilização e facilita as tomadas de decisão, serve também para entendermos os nossos pontos fortes e os nossos pontos fracos. E muitas vezes chega a ser mesmo discutido em tribunal. O superior interesse da criança é defendido por vários agentes.

Senti-me durante muito tempo sem rumo, muitas vezes, sem saber o que fazer da vida, com medo de tudo e de nada. E dei por mim a perder oportunidades devido aos meus medos. Um PV ajudou-me a manter uma rota, a pôr tudo em perspetiva. Mesmo que tenhas medo, está lá escrito e tu queres fazê-lo, então só tens um remédio, aceitar a ajuda e cumprir o plano!

Em qualquer área que fosse, as técnicas sempre me ajudaram a definir os meus objetivos e a criar um plano que fosse concretizável. E o meu esteve parado durante um bom tempo enquanto eu não me recuperei psicologicamente de todos os abalos sofridos. Mas uma vez ultrapassado esse obstáculo, consegui galgar terreno e apanhar o comboio do sucesso académico, das relações interpessoais saudáveis, da concretização pessoal e até da autoestima.

Agora estou a braços com uma das suas partes mais difíceis, que é a de criar um plano para quando sair daqui de forma definitiva. Já o estamos a fazer, pois na realidade já não falta muito tempo (tenho 23 anos). O grande objetivo do projeto de vida para mim tem sido o facto de não me deixar acomodar e deixar a vida andar, pelo contrário, tem-me motivado para cumprir com os objetivos criados para que no fim não tenha que depender do lar para sobreviver. Quero terminar a minha licenciatura em gestão de restauração e catering e ingressar num mestrado na área da segurança e higiene alimentar, e quem sabe um dia trabalhar na ASAE. E quero ser feliz fazendo os que estão à minha volta felizes, e se isso um dia vier na forma de marido e filhos muito bem, se não, muito bem na mesma! Na certeza, porém, que antes disso irei viajar muito e fazer voluntariado no estrangeiro.

Portanto, atualmente assolam-me medos e dúvidas novos, próprios da idade e desta etapa de vida. Estou pronta? Vou saber gerir o meu dinheiro sem ficar à rasca no fim de mês? Vou saber lidar com a ausência dos barulhos de uma casa cheia? Vou saber fazer o IRS? Enfim…

Durante todos estes anos vi muitas jovens a sair dos lares antes do tempo com sede de liberdade, vi depois muito arrependimento, muita asneira cometida com a arrogância dos 18 anos que falsamente induzem uma sensação de adultícia que ainda não existe. Muitos PV ficam pelo caminho porque a maioridade oferece tentações que nem todas resistem. Deixam a casa das regras para um mundo sem lei e mais tarde pagam o preço dessa decisão impulsiva. Não sei se sabem, mas aos 18 anos nós podemos sair dos lares, o processo de promoção e proteção cessa se quisermos. Mas eu optei por ficar, ninguém tem a vida organizada aos 18 anos, é uma fantasia...

Os jovens saem dos lares das seguintes formas (todas autorizadas por tribunais ou CPCJ); adoção, reintegração familiar ou autonomia. Há ainda casos de jovens que têm de ser transferidos para outras instituições de adultos por terem deficiência e não terem nenhuma das hipóteses anteriores. É uma vida de casa às costas!