Não é só nos filmes nº6

Olá a todos os seguidores da página "storyofmylife" 😊 Página essa que para mim, não é uma qualquer. É a página da minha amiga Inês ❤ posto isto, que honra que é ter sido convidada a participar nela. Aproveito pra desejar (publicamente) a maior sorte deste mundo à Inês. Merece. E além de merecer tem feito um trabalho espetacular em que demonstra esforço e dedicação. E para mim, também mostra coragem. Porque não é qualquer pessoa que fala dos abalos da vida.

Chamo-me Cristina e tenho 26 anos. Fiz parte da família do Lar Santa Cruz precisamente há 12 anos atrás. É óbvio que muitos acontecimentos vão caindo no esquecimento com o tempo. Porém, tem outros que nos ficam na memória para sempre. O dia que entrei no Lar será sem dúvida, algo que nunca vou esquecer. Estou a escrever-vos e estou com aquela sensação de "parece que estou a sentir o que senti naquele dia".

Não posso dizer que foi fácil entrar num lugar desconhecido, dividir meu espaço com outras meninas que nunca vi na vida. Meninas essas completamente diferentes de mim. E quando digo "diferentes" refiro-me mesmo a nível comportamental. Porque cada um de nós tem seu jeito, sua essência.

Entrei no Lar com 14 anos. Mas já com um historial bem "pesado" pra idade que tinha. Com uma rotina que não podia ser classificada como "normal". Era uma adolescente bem complicada.

Não respeitava o próximo, não tinha regras nem horários, não tinha objetivos, não tinha amizades (apesar de achar que tinha, na altura). Eu era rebelde e os meus "amigos" somavam mais rebeldia em mim levando-me para meios que não seriam o melhor futuramente. Porém, a culpa não é so dos outros dado que cada um tem o poder de decidir. E eu decidi muitíssimas vezes errado. Até que, quando entrei para o Lar tudo mudou. Mas mudou de uma forma tão radical que na altura estava tão contrariada... Não queria estar ali. Não queria mesmo. Não me sentia "em casa". Sempre fiz tudo o que queria, sem regras, sem limites. Quando entrei na instituição foi quase que um choque para mim. O ter hora certa para comer, para deitar, o ter que pedir autorização para ir dar um simples passeio... Isso deixava-me zangada. Mas o correto pra minha idade na altura, era isso mesmo.

Os dias foram passando e a interiorização de que aquele sitio passaria a ser "o meu sítio", começou a ser cada vez mais aceite pela minha mente. Não havia como fugir. Aceitar aquela realidade, era meio caminho andado para um viver melhor. E assim foi.

Pouco a pouco, a equipa técnica do Lar conseguiu estabelecer ligação comigo, mostrando-me outros caminhos. Ajudaram-me muito. Tanto na escola como a nível pessoal. Fizeram-me renascer, por assim dizer.

Posteriormente, quando comecei a ficar envolvida e digamos que integrada no Lar, tudo ficou melhor. Já não me perturbava o facto de morar com muitas meninas. Pelo contrário, comecei a adorar. O respeito pelas Doutoras começou a ser outro e a crescer mais e mais. Mediante o comportamento, as regalias começavam a ser outras. De odiar, passei a gostar imenso. Foi transmitida a ideia "nada cai do céu" com sucesso. Tínhamos recompensas sim, mas tínhamos de trabalhar pra elas.

Nos 4 anos que vivi na instituição, em muitas asneiras que fiz e em muitas repreensões que levei (merecidas, aliás extremamente merecidas😉), posso dizer que tudo valeu a pena. Não mudaria nada. Nem mesmo os meus erros. Porque foi com eles e por eles, que sou o que sou hoje. Que aprendi o que sei. E muito tenho de agradecer às doutoras. Até mesmo às meninas que me acompanharam na altura que foram minha força também. As Doutoras não desistiram de mim. Pelo contrário, acreditaram mesmo quando eu não acreditava, e investiram tanto em mim como na minha educação com o objetivo de um dia ser alguém melhor. E esse "alguém melhor" está aqui hoje a escrever este testemunho.

Das coisas que mais me dá gosto ouvir quando me encontro com alguém que me conheceu na altura da rebeldia é "caramba, estás tão diferente, nem pareces a mesma". Mesmo em conversas com meus amigos em que vem ao acaso o meu passado, muitos me dizem "não consigo te imaginar assim". Para mim é tão bom ouvir isso... Porque significa que realmente mudei, que as pessoas vêm em mim uma Cristina diferente. Neste caso, uma Cristina decente! 🥰

De salientar que me custou imenso (mais do que alguma vez pensei), me habituar sem aquele "barulho" do jantar, as diversas conversas cruzadas, os diferentes humores ao acordar...Tanta coisa.

Agradeço de coração por ter feito parte do Lar Santa Cruz. Hoje sou o que sou e como sou tanto pelo meu esforço, como por tudo aquilo que trabalharam comigo ❤