Não é só nos filmes (nº3)

Hoje mais um “murro no estômago” da realidade que a muitos passa despercebida. Leiam, emocionem-se e façam a diferença na vossa comunidade. Aqui fica outro testemunho real e uma vez mais anónimo.

«Olá, já encontrei alguma paz que me permite falar do meu passado mas ainda é um tema muito sensível e para o qual ainda estou a fazer terapia. E por isso prefiro manter o anonimato.

Vivi numa instituição desde a pré-adolescência e fiquei para além da maioridade. E lá foram os anos mais felizes da minha vida. Mas nem sempre foi tudo cor-de-rosa.

Quando vivia com os meus pais, a minha mãe que tinha uma perturbação psiquiátrica, acreditava que eu estava possuída por um espírito mau. Levou-me a vários sítios para me “tratar”. Fui benzida muitas vezes e de formas muito estranhas. Segurei incensos, atiraram-me àgua, rasgaram-me roupas, faziam rezas em cima de mim. Desde criança que me fizeram acreditar em fantasmas, bruxarias e que eu tinha dons paranormais.

Chorava muito durante estas sessões esquisitas, tive (e tenho) medo do escuro, sentia-me diferente dos meus amigos. Tenho a minha auto-estima num farrapo até hoje.

Para proteger a minha mãe que amava muito e ainda amo, mentia às técnicas e professoras até que não aguentei mais esconder o que acontecia em casa. E a partir daí a minha mãe ficou zangada comigo, por ter dito às autoridades a verdade. Ela vai sendo internada compulsivamente de tempos a tempos em hospital psiquiátrico e sofro sempre muito com isso, tenho sempre a esperança de que um dia ela se vai curar.

Encontrei uma nova família no lar, encontrei colo e felicidade. Mas o sonho de ter uma família normal, a minha família curada, continua a existir e em conflito com a certeza que isso nunca vai acontecer. E vou sobrevivendo entre a realidade e a fantasia.

Por causa de tudo isto, odeio o halloween, filmes de terror, pessoas com fantasias que tapam a cara, barulhos durante a noite, sustos, etc. Sei que sou normal e que a culpa não é minha, mas não é assim que me sinto.»