Não é só nos filmes
- Story of my life Blog
- 16 de mai. de 2021
- 3 min de leitura
Numa época em que, felizmente e finalmente, tanto se tem falado no assédio sexual, deixo também o meu contributo para que haja uma consciencialização cada vez maior das sequelas que estes tipos de comportamentos acarretam na vida das vítimas.
Vivia com muitos rapazes na minha 1º casa de acolhimento, recordo-me como se fosse hoje, um dia um rapaz disse-me: “mostra-me as tuas mamas!” eu respondi-lhe logo que não, não entendia o porquê de ele querer ver o meu corpo. Ele insistiu uma e outra vez, acabou por me dizer: “se mostrares as tuas eu mostro as minhas”. E eu já cansada de o ouvir, queria era ir brincar, disse-lhe está bem, tinha menos de 10 anos nessa altura. Não levei aquilo a mal, até porque já me tinha acontecido mais que uma vez com diferentes rapazes.
Mais tarde já na minha adolescência (12/13 anos) estes tipos de comportamentos passaram a ser mais frequentes, à medida que o meu corpo se desenvolvia. Através de olhares maliciosos que me deixavam desconfortável, ou piadas sexuais. Através de imagens/fotografias indesejadas de teor sexual que recebia, telefonemas e SMS constantes, contacto físico intencional e não solicitado, forçado e até excessivo. Aquelas massagens por trás das costas que não queremos, mas a pessoa vai lá e faz na mesma ou aquele tocar no cabelo…” Não tem mal nenhum!” diziam eles, “Somos amigos, não é?”. NÃO, NÃO É!
O primeiro episódio mais sério, foi num dia que eu estava em casa da minha mãe, sentada na cama a ver desenhos animados e um homem (namorado dela), baixou as calças e mostrou-me o pénis. Eu fingi que não vi, continuei a olhar para a televisão e a pensar, «isto não pode estar a acontecer», tocou-me na perna e apontou para lá a rir-se. A minha resposta a esta situação foi fingir que era normal e fingir que não tinha visto. Ele puxou as calças para cima e começou a rir-se e deu-me um abraço dizendo: “Estou a brincar contigo, tu sabes!”. Tive medo de me levantar e fiquei paralisada com aquilo tudo, porque para além de toda aquela situação ele era uma pessoa violenta.
A segunda vez, foi com outro homem que tinha ficado lá a dormir em casa, na mesma sala que eu, esse homem tinha mais de 20 anos, eu tinha apenas 12. Acordei a meio da noite a sentir que alguém estava a tocar no meu corpo, mas no momento em que acordo, vejo-o a “dormir” e tudo muito tranquilo. Começo a sentir aquilo outra vez, estava a tentar colocar as mãos dentro da minha roupa interior. Levantei-me para ligar a televisão e espreitei para ver se alguém lá em casa estava acordado que me pudesse fazer companhia, ninguém! Volto a deitar-me na cama, e reparei que o colchão dele estava muito perto da minha cama, adormeço com medo. Volto a acordar e sinto beijos nas costas, mãos dentro das minhas calças de novo e ele está, literalmente, deitado na minha cama, sinto alguma coisa molhada nas minhas costas, não entedia o que era. Ainda sem coragem de o olhar na cara disse: “O que estás a fazer? Pará com isso quero dormir”, para minha grande sorte ele parou...
Tudo isto me afetou de muitas maneiras desde aquele dia e nos anos seguintes, principalmente na forma como me relacionava com o sexo oposto.
Inicialmente senti raiva por não saber lidar com aquelas situações, senti-me sozinha, envergonhada. Senti medo, tive nojo de mim própria, senti que não prestava para nada, senti-me humilhada, culpada e tive insónias durante muito tempo. Sentia-me desmotivada, não queria ir para a escola nem queria sair com amigos, sentia-me “uma merda!” (desculpem o palavrão, mas só ele tem a força daquilo que vos quero transmitir).
O meu pensamento ruminante era: “A culpa disto tudo é minha, fui eu que deixei que isto acontecesse, coisas más acontecem a pessoas más”.

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