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Institucionalizada outra vez!

  • Foto do escritor: Story of my life Blog
    Story of my life Blog
  • 21 de mai. de 2021
  • 3 min de leitura

Como já referi nos textos anteriores eu nunca tive vínculos importantes com ninguém, pelo menos que fossem consistentes e permanentes.


Depois de ter percebido que viver com a minha mãe foi um erro, depois de muito refletir, com apenas 13 anos pedi ajuda a uma assistente social da EMAT (equipa multidisciplinar de apoio aos tribunais) e voltei para uma instituição. Já tinha uma bagagem emocional bastante grande e decidi privar-me do contacto com o meu irmão mais novo, da minha liberdade, privacidade para ter uma vida com mais segurança, proteção, mais educação e onde pudesse dormir à noite sem medo do dia seguinte, foi uma das maiores decisões que tive de tomar.


Antes de entrar no lar onde me encontro, estive numa vaga de emergência, pois no dia que pedi ajuda levaram-me logo diretamente da escola, só com a roupa que trazia no corpo. Fui para um lar para onde vão as situações mais urgentes e, portanto, tem todo o tipo de jovens (na sua maioria MUITO difíceis), mas felizmente não fiquei lá muito tempo pois encontraram uma vaga para mim no Lar da Santa Cruz – 4º e último lar por onde passei. Não fui aceite de volta no lar onde estava antes de ir viver com a minha mãe e onde estava o meu irmão mais velho, até hoje sinto-me muito revoltada por isso, mas por outro lado isso permitiu que viesse parar ao lar da Santa Cruz onde eu finalmente cultivei relações significativas e curei quase todas as minhas feridas.


Lembro-me como se fosse hoje, apresentaram-me o Lar e recordo-me de pensar duas coisas: “Isto é tão pequeno parece uma casa normal!”, “Esta casa é só de meninas?”, podem até parecer pensamentos estranhos, mas acreditem em mim, as casas onde tinha vivido eram gigantes e sempre foram casas mistas. Por isso aquela iria ser uma nova realidade para mim. Depois de ter pousado a minha mochila da escola (era a única coisa que eu tinha) sentei-me na sala a ver televisão enquanto esperava que chegassem as meninas, posteriormente fui apresentada a cada uma, escolheram uma menina para ser a minha “madrinha” e essa menina tinha a responsabilidade de me transmitir as regras da casa, de me ajudar na integração e esclarecer dúvidas. Chamo-lhe madrinha até hoje.


Nessa altura vestia-me de preto, era muito reservada e revoltada com tudo. Tinha muito muito medo de me relacionar com os outros, tinha medo de ser magoada outra vez. Já era uma menina que sabia muito sobre a vida por isso sempre me senti um bocado “mais adulta” que os meus colegas de escola e então o Lar tornou-se no único sítio em que eu estava mais à vontade. Mas demorei bastante até perceber que estas pessoas me queriam (verdadeiramente) bem e que não me iam abandonar. Comecei a dar-me muito bem com as meninas, éramos todas quase da mesma idade, gostávamos da mesma coisa então tornou-se tudo mais fácil. À medida que as técnicas do lar me foram conhecendo, ajudaram-me a “arrumar” o passado e mostraram-me as possibilidades que agora podia ter.


Finalmente tinha roupa só minha, brinquedos só meus e tinha alguém permanente na minha vida que não me ia tratar mal ou virar costas. Pela primeira vez em muito tempo tinha paz. Ao final daquele primeiro dia tive a sensação que já lá estava há muito tempo, senti-me mesmo em casa e até hoje nada mudou! Existirão com certeza muitos lares bons e até melhores, mas para mim o Lar da Santa Cruz salvou-me e será sempre a melhor casa de acolhimento do mundo. Não falta muito tempo para um dia sair daqui, mas sobre isso falarei noutro texto.



 
 
 

1 Comment


inesdesousaluis
May 22, 2021

Gosto tanto de ler os teus textos. Escreves tão bem. Na minha opinião, devias escrever mesmo um livro e levá-lo a uma editora.


Aguardo cada texto teu com ansiedade e emociono-me com o que contas.


Sério pensa em escrever um livro.


Bj desta tua fã.

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Olá, que bom ver-te por aqui!

Aqui podes ficar a conhecer a minha história, a minha experiência de viver em casas de acolhimento a minha vida toda!

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