EXPERIÊNCIA FALHADA
- Story of my life Blog
- 11 de mai. de 2021
- 3 min de leitura
Hoje vou abrir um tema muito difícil, mas antes disso tenho de fazer um preâmbulo. A minha família nunca esteve presente da forma que precisava, mas ela existe! Tenho um irmão mais velho que viveu comigo em duas das instituições por onde passei, vim a descobrir um irmão mais novo posteriormente, sei onde vivem os meus progenitores (estão separados) e estabeleci contacto recentemente com umas primas, não sou órfã mas sempre me senti assim. Sempre, exceto durante 2 anos da minha vida onde me alimentaram expectativas para depois as defraudarem de uma forma irreparável… Cá vai...
Aos 10 anos de uma vida sem mãe, de repente ela (re)aparece. Soltam-se em mim um turbilhão de emoções, naquele preciso momento, em que a vejo pela primeira vez, esqueço-me de imediato de todos os anos que sofri até ali por não a ter. Foi como um estalar de dedos.
Estava a andar de baloiço no parque da instituição (um local onde me refugiava muitas vezes para estar sozinha) quando de repente ouço alguém a berrar: “Esta aqui a tua mãe Inês! Esta aqui a tua mãe, anda rápido!” e ao mesmo tempo chamavam pelos nossos nomes (meu e do meu irmão). Ao ouvir aquilo esperei pelo meu irmão e vou a correr ao seu encontro. Ela com uma criança ao colo com um ar muito amoroso aguardava-nos no pátio. Até ao momento em que cheguei a ela só chorava, depois de a agarrar com toda a força que tinha, sem saber exatamente quem era, sem saber sequer o seu nome, sem saber nada do que se estava a passar. Só sei que foi o dia mais feliz da minha vida. Aos 10 anos “conheci” a minha mãe e o meu irmão mais novo.
Á medida que os dias/semanas/meses foram avançando ela foi mantendo o contacto e foi sendo assim sem nunca falarmos sobre a razão de nos ter abandonado, nem eu nunca tive coragem de questionar nada.
Nesse mesmo ano, a minha (primeira) instituição fechou por falta de condições, todos aqueles que conhecia foram mandados para instituições diferentes, tive a sorte de ficar junto do meu irmão, mas muitos amigos meus não tiveram a mesma sorte. Perdi-os a todos, assim como as funcionárias e os animais que tínhamos e que considerava meus. Perdi o contacto com os meus amigos da escola e da catequese. Perdi tudo! Esse dia foi um dia muito marcante na minha vida vê-los a todos a serem colocados em carrinhas para serem realojados, todos aos berros porque não queríamos ir, foi horrível!
Então depois deste choque tão grande eu também não queria perder a minha mãe, ainda há pouquíssimo tempo tinha entrado na minha vida, não a ia perder… Mudei de instituição, esta era muito mais pequenina, a minha mãe continuou a visitar-nos e diziam-nos sempre que um dia íamos viver com ela.
Foi então que chegou o dia de ir a tribunal, um juiz perguntou-me se queria ir viver com a minha mãe, «CLAAAARO QUE SIM» foi o que me apeteceu gritar, mas apenas afirmei que sim timidamente. O meu irmão não quis, não acreditou nas promessas da nossa mãe.
Os primeiros meses foram incríveis, íamos passear, víamos filmes, íamos almoçar/jantar fora muitas vezes, fazíamos brincadeiras muito divertidas, etc. O tempo foi avançando, e fui tomando consciência do que se passava.
Era uma criança e talvez por isso tenha demorado a perceber os sinais à minha volta, mas eles tornaram-se cada vez mais evidentes; o álcool, as drogas, a troca constante de namorados, a instabilidade emocional, o desemprego, as tentativas de suicídio e a pobreza.
Vi-me obrigada aos 11 anos a ter que cuidar dela e do meu irmão mais novo.
Tive a necessidade de pedir ajuda a uma amiga minha e à sua família. Eles acolheram-nos vezes sem conta. Pedi-lhes ajuda muitas vezes, nem que fosse só para dar de comer ao meu irmão, porque a situação em casa estava completamente descontrolada.
Aquela felicidade que nunca tinha sentido transformou-se no pior ano da minha vida, tive que crescer (ainda mais!) e buscar forças que não sabia que tinha para me poder defender, para poder defendê-la e para proteger o meu irmão. Exausta de tudo e com medo do que me poderia acontecer por causa das investidas que sofria dos estranhos que frequentavam a casa, pedi ajuda e voltei a ser institucionalizada na terceira casa de acolhimento, pois a anterior (onde estava o meu irmão mais velho) não me aceitou de volta.
Parece tudo um filme, eu sei! Mas não é.
P.S.- Sei agora que a minha mãe lutava contra os seus próprios fantasmas e doença, perdoei-a, mas não faz parte da minha vida.

Ola. Não a conheço mas aceite o meu abraço.